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Vela nas Olimpíadas de Londres - Conheça os detalhes do esporte que mais trouxe medalhas para o Brasil

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Vela nas Olimpíadas de Londres - Conheça os detalhes do esporte que mais trouxe medalhas para o Brasil

Esporte náutico e Lazer a Bordo 30/11/-0001
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Está chegando a hora. A partir do dia 27 de julho o país inteiro vai parar para acompanhar de perto os atletas que irão correr, nadar, saltar, jogar e até cavalgar em busca do sonho de conquistar uma medalha olímpica.

No mês que vem Londres vai sediar mais uma edição dos Jogos Olímpicos e será o ponto de encontro dos melhores esportistas de todo o planeta. O Brasil, é claro, não ficará de fora desta “grande festa”. Até o momento o país conta com 231 vagas em 30 diferentes modalidades para os Jogos Olímpicos/Londres 2012. E, no país do futebol, uma curiosidade chama a atenção: o esporte que mais acumula vitórias em Jogos é a Vela - são 16 medalhas no total. No rastro dos “bons ventos” do esporte, os dois maiores medalhistas do desporto nacional são velejadores: Torben Grael (com cinco medalhas no currículo sendo duas de ouro) e Robert Scheidt (quatro medalhas, dois ouros).

Na última edição dos Jogos, realizada em 2008 em Pequim, na China, a Vela trouxe duas medalhas para o Brasil: uma prata na classe Star com a dupla Robert Scheidt e Bruno Prada, e um bronze na 470 feminina com Fernanda Oliveira e Isabel Swan. Para esta edição, o Brasil levará para as águas de Londres nove atletas que tentarão conquistar uma medalha em sete diferentes classes. Scheidt e Prada são os grandes favoritos ao ouro em Londres, assim como Fernanda Oliveira, ao lado de sua nova companheira Ana Barbachan, que também é uma grande aposta de vitória na “terra da rainha”. A Equipe Brasileira de Vela ainda tem um campeão mundial no grupo, além de velejadores entre os 10 melhores do ranking da federação internacional do esporte.

Para te deixar por dentro de todos os detalhes desta vitoriosa modalidade nos Jogos, o Bombarco conversou com Thomas Buckup, instrutor de Vela para crianças e adultos na Marinas Nacionais, no Guarujá. Experiente no assunto, o velejador, que já participou de diversos campeonatos no Brasil e no exterior, comenta sobre as classes olímpicas e as chances do Brasil em Londres. Confira:

Bombarco (BB) – Quais são as principais características das classes olímpicas? Elas são mais técnicas que as demais?

Thomas Buckup (TB) As classes olímpicas são aquelas que melhor representam o estágio evolutivo atual da vela no mundo. A ISAF (Federação Internacional de Vela) é a responsável por eleger quais serão as classes que estarão presentes em cada evento olímpico. A Federação procura escolher as classes mais difundidas e que melhor possam cobrir as diferenças de gênero e biotipo dos velejadores. Assim temos as classes femininas (470, Elliot 6m, RS:X e Laser Radial) – e as masculinas -  como a Finn para os velejadores mais pesados e a Laser para os mais leves, por exemplo.

BB Quais tipos de barcos são usados nos Jogos? Os barcos mudam de uma classe para outra?

TB Cada classe usa um barco diferente. Em Londres teremos as seguintes:

Star: (masculino) - Barco com quilha com duas velas para duas pessoas. Uma das classes mais técnicas e tradicionais da Vela e integra o cronograma dos Jogos desde as primeiras edições.

470: (feminino e masculino) – Um veleiro tipo dingue menor e mais leve, sem quilha, com duas velas e mais um balão para ventos folgados, também para duas pessoas. Barco para jovens e pessoas leves.

RS:X: (feminino e masculino) - Prancha à Vela para uma pessoa. Representa a modalidade do Windsurfing.

Finn e Laser Standart (masculino) -  Dingue com uma vela para uma pessoa. Requer muita força física, sobretudo na classe Finn.

Laser Radial (feminino): Mesmo barco usado na Laser Standart só que com uma vela menor, também para uma pessoa.

49er (masculino) - Skiff para duas pessoas com duas velas e balão. Classe relativamente nova, muito rápida e ágil.

Elliot 6m (feminino) - Veleiro com quilha, duas velas e um balão para 4 pessoas. Requer um trabalho de equipe muito bem entrosado. Entra pela primeira vez em uma Olimpíada.

Nota da redação: O Brasil será representado em Londres pelos seguintes atletas: Ricardo Winicki, o “Bimba”, ( RS:X masculino), Patrícia Freitas (RS:X feminina), Bruno Fontes, (Laser), Adriana Kostiw (Laser Radial), Jorginho Zarif (Finn), Fernanda Oliveira e Ana Barbachan (470 feminina) e Robert Scheidt e Bruno Prada (Star). O país não conseguiu classificar atletas para as classes 49er, 470 masculino e Elliot 6m.

BB Como são as regatas nos Jogos? Elas são diferentes das que são organizadas em outros tipos de campeonatos?

TB As regatas dos Jogos Olímpicos são equivalentes às realizadas nos campeonatos mundiais de cada classe. Na água, cada classe compete separadamente em uma raia exclusiva. Algumas podem correr juntas na mesma raia, mas as largadas acontecem separadamente.

Com exceção do 49er e do Elliot 6m, todas as outras têm uma série preliminar de 10 regatas onde serão selecionados os 10 melhores para uma regata final (a “medal race”). Nesta última prova, os pontos conquistados nas regatas iniciais continuam valendo na classificação geral, fazendo que o resultado final, às vezes, já esteja praticamente definido.

Na 49er, ao invés de 10 são 15 regatas preliminares para definir os 10 que irão para a “medal race”. Já na Elliot, as regatas acontecem no sistema match race. Ou seja, são inúmeras regatas curtas sempre entre dois competidores apenas, até as fases semifinais e finais para decidir os primeiros 4 colocados.

BB Por que algumas classes podem ser disputadas por homens e mulheres (caso da 470) e outras só podem ser disputadas ou por homens ou por mulheres (caso da Star que é só masculina)?

TB – Em respeito às características biofísicas femininas, as mulheres disputam as classes que exigem um pouco menos de esforço físico. Porém, há uma preocupação da Isaf em permitir que as velejadoras disputem pelo menos 50% das medalhas disponíveis nos Jogos.

BB – Existe alguma diferença de regras, ou até mesmo na maneira de conduzir os barcos, nas classes que contam com a participação de homens e mulheres (como a 470 e RS:X)?

TB – Não existem diferenças de regras ou de maneiras de conduzir o barco entre as classes femininas ou masculinas, exceto as já citadas acima. Em função disso a dupla brasileira masculina de 470 muitas vezes treinou contra a dupla feminina da mesma classe quando todos estavam se preparando para participar das eliminatórias para os Jogos.

BB – Qual das classes olímpicas é mais “fácil” para competir e qual pode ser considerada a mais difícil?

TB – Todas as classes são extremamente difíceis e exigem muita força física, agilidade, estratégia e experiência – Incluindo participações em torneios internacionais e, principalmente, participar de regatas no local em que será realizada a Olimpíada para conhecer as condições das raias.

BB – Você tem acompanhado a preparação da Equipe Brasileira de Vela para Londres? Qual a sua opinião sobre a equipe? Você acha que temos chances de medalha?

TB – O Brasil sempre terá chances de medalha na Vela em qualquer Olimpíada. Sem falsa modéstia, o nosso país se tornou uma das maiores potências mundiais na modalidade. Isso mesmo com todas as dificuldades, como a necessidade de importar os materiais e a baixa divulgação e, consequentemente, a participação ainda pequena do público. A vela brasileira já conquistou 16 medalhas olímpicas e é o esporte que acumula o maior número de medalhas de ouro. Talvez o mérito seja das nossas condições privilegiadas para a prática da modalidade durante todo o ano e o estímulo ao esporte dos clubes e federações, sobretudo nas regiões Sul e Sudeste.

Quanto às nossas chances concretas agora em Londres, estamos com uma equipe “de ponta”, com velejadores experientes e uma nova geração em desenvolvimento. Robert e Bruno, em função de seu currículo - atualmente tricampeões mundiais na Star - evidentemente sempre serão uma esperança para a conquista do pódio. Fernanda [470 feminino], medalha de bronze em Pequim, vai para sua quarta olimpíada com chances reais de vitória, assim como o "Bimba" [da RS:X masculino]. Finalmente, Bruno Fontes [Laser Standart] e Adriana [Laser Radial], assim como a Patrícia [RS:X feminino] e Jorginho [Finn] que estão iniciando uma carreira na vela, não seria de estranhar se chegarem entre os 10 primeiros e até mesmo trazerem uma medalha para o Brasil. Para estes, um bom começo pode significar uma arrancada e consolidação da autoestima necessária para galgar postos mais altos já nesta Olimpíada.

BB – Para os próximos Jogos Olímpicos acontecerão algumas alterações nas classes. A Star, por exemplo, não estará mais no programa. Qual a sua opinião sobre essas mudanças? São positivas?

TB – Mesmo que essas alterações não agradem tanto a nossos velejadores, (eliminação da classe Star, por exemplo, onde já conquistamos diversas medalhas olímpicas) elas serão absorvidas e nós teremos o tempo e a versatilidade suficiente para nos adaptarmos às novas classes e continuarmos bem sucedidos na modalidade.

BB – Quais são as características que um velejador que pretende participar de competições olímpicas precisa ter?

TB – Um velejador olímpico, como em qualquer tipo de esporte de ponta, tem que ser um obstinado e iniciar sua jornada desde bem jovem. Uma criança que saiba nadar já está apta a aprender a velejar. Se esta criança sentir prazer em conduzir seu barco a vela, ela poderá, após um extenso trabalho de preparação e com o apoio de sua família, sua comunidade, clube, federação ou patrocinador, chegar a competir com os melhores de todo mundo em uma olimpíada.

Muitos pais com quem lidei durante os cursos de Vela sonham em ver seu filho ou filha em uma Olimpíada representando o Brasil. Procuro lembrar que, se a criança deseja galgar esta escada, isto ficará claro desde pequeno. Geralmente os bons velejadores tem dentro de si uma força e obstinação de vencer que supera todas as dificuldades. Ele é o primeiro a chegar à aula e o último a sair, pergunta sobre tudo, ajuda em qualquer tarefa que esteja relacionada com a atividade náutica, cuida com esmero do seu barco e aprende com os erros. Os pais ou o clube que estiverem próximos a este jovem precisam apenas procurar apoiá-lo nesta jornada.

Porém, grande parte deles não quer competir ou não deseja vencer. Quer apenas velejar, se divertir e estar com os amigos para brincar na natureza com seu barco.

 

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Juliana Barbosa para Bombarco
Foto: Pierrick Contin / Coych