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Surpresa no Rio de Janeiro

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Surpresa no Rio de Janeiro

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Após a tempestade da noite anteiror, o cansaço do filho Jonas
"Em maio de 2006, após duas semanas de passeio pelo Rio de Janeiro e Niterói, eu e meus dois filhos, Carolina, na época com 11 anos, e Jonas, com 12, seguiríamos viagem para Arraial do Cabo com o nosso veleiro Fandango. Vimos a previsão do tempo em um site e estava previsto ventos nordeste de 8 a 12 nós.

Nosso sentido de viagem seria de oeste para leste. Dessa forma, teríamos uma orça apertada com vento fraco, situação que o nosso barco gostava. Saímos no final da tarde, para passar a noite toda viajando e com previsão de chegar bem cedo em Arraial.

Mas a previsão de tempo falhou ‘feio’ e, após três horas de viagem, o vento começou a aumentar muito e entrar na ‘cara’. O vento chegou a 25 nós constantes e mais de trinta em algumas rajadas, totalmente de proa.

As ondas subiram para uns dois metros e meio e tudo ficou encharcado no barco. Os livros e materiais escolares pularam da prateleira e caíram no chão. Tentamos velejar na orça máxima que o vento permitia, mas como todas as ondas que batiam no costado varriam o convés e o cockpit, ninguém conseguiu dormir e nem ficar seco. Ir ao banheiro era uma aventura que desistimos de tentar: eu e o Jonas usávamos uma garrafa no cockpit e a Carol precisou usar um balde.

O que fizemos?

Na ocasião, para contornar a situação, primeiro deixamos o pano compatível com o vento, ou seja, colocamos a mestra no segundo rizo e enrolamos mais da metade da genoa, deixando-a bem pequena. Procuramos seguir um rumo que pudéssemos velejar, mesmo andando de lado com a correnteza que também estava forte.

Havia também um fluxo intenso de navios na região. Alguns iam para a ilha de Cabo Frio mais aterrados, que fugiam da correnteza, e outros que vinham ao largo, aproveitavam a mesma correnteza para descer a costa. Procuramos ficar no meio das duas rotas, bordejando sempre que necessário.

Aguentamos a noite toda dessa forma. Quando amanheceu, o tempo melhorou e, finalmente, entrou o nordeste de 12 nós prometido, o que nos colocou no rumo do boqueirão da Ilha de Cabo Frio.

Levamos 20 horas para percorrer um trecho que seria feito normalmente em 10 a 12 horas. Tivemos também 10 horas de mau tempo.

Quando chegamos em Arraial, encontramos dois veleiros de Ubatuba que passaram por situações semelhantes à nossa. Um tinha perdido o mastro no través da Ilha de Cabo Frio e o outro encalhou na Prainha com o mau tempo.

Se fosse hoje...

Antes de sair, teria olhado vários sites de previsão de tempo, o que comecei a fazer a partir desse acontecimento. Além disso, não teria ido ao mar com essa situação de tempo.

Caso a previsão falhasse, hoje, faria meia volta e retornaria ao Rio de Janeiro. Esse mesmo vento de 25 nós “na cara” nos daria uma velejada fantástica e rápida de volta ao Rio, com ele a favor. Tudo ficaria seco e o risco seria muito menor. Tivemos ventos até mais fortes que esse em outros trechos que navegamos, mas como nesses trechos era favorável, tudo estava confortavelmente seco e seguro.

A experiência que tirei dessa situação é que meu barco e minha tripulação eram fortes e marinheiros. Depois de mais algumas milhas navegadas vi que não vale a pena encarar o mar. Está difícil? Volte e tente com uma situação mais favorável.

Hoje em dia, uma das principais seguranças que temos são as previsões de tempo. O ideal é acessar várias e compará-las entre si.

A outra grande segurança de um navegador é ter tempo para sair no momento oportuno. A pressa mata e sair no momento errado, sabendo que vai encontrar situações de vento e mar muito duras, é um dos piores erros que um navegador pode fazer.

Por último, temos que ter sempre a humildade de perceber que cometemos um erro e voltar atrás se necessário. Chegar com seu barco em um objetivo não é uma batalha que deve ser ganha com esforço, risco e sacrifício, deve ser um prazer que tem que ser conquistado com sabedoria, cuidado e planejamento”.

Sérgio Amaro Gomes

47, é autor do livro O Melhor Ano de Nossas Vidas.  Viúvo há nove anos, é pai de Carolina, 14, e Jonas, 15.
Divide-se na tarefa de pai e mãe ao mesmo tempo, ou “pãe” como gosta de ser chamado.
De dezembro de 2005 a fevereiro de 2007, junto com os filhos e a bordo do veleiro Fandango navegou pela costa brasileira.
Mais informações sobre o livro e a família no site www.tresnomundo.com.br

Thassia Ohphata
Fotos: Arquivo pessoal