Sua mensagem foi enviada com sucesso!
Veleiro Mussulo: Tripulação acerta barco para travessia do Atlântico durante Copa Suzuki Jimny

Notícias

Veleiro Mussulo: Tripulação acerta barco para travessia do Atlântico durante Copa Suzuki Jimny

11/09/2013
Compartilhar

A tripulação do veleiro Mussulo III está aproveitando as regatas da Copa Suzuki Jimny, disputada em Ilhabela, para se preparar para a Regata Cape2Rio, entre Cidade do Cabo, na África do Sul, e o Rio de Janeiro, que começa em 4 de janeiro de 2014.

A ideia de se inscrever na mais longa prova de oceano do hemisfério Sul, foi o comandante José Guilherme Caldas, 52 anos, depois de uma conversa com velejadores compatriotas angolanos. "É um sonho, um projeto visionário para favorecer o desenvolvimento da vela em Angola. Luanda (a capital) sempre esteve voltada para esse esporte. Era lá que Portugal realizava seus campeonatos mundiais de várias classes," conta José Guilherme.

O barco, um Bavaria Cruiser 55, está competindo na Copa Suzuki Jimny com as cores de Angola. A bandeira rubro-negra está sempre tremulando na popa durante as manobras no canal de São Sebastião. Na Cape2Rio o Mussulo representará o Yacht Club de Ilhabela (YCI) e o Clube Naval de Angola, o segundo mais antigo da África. A tripulação será binacional, formada por cinco angolanos e quatro brasileiros.

A regata que atravessa o Atlântico Sul é promovida desde 1971 pelo Royal Cape Yacht Club, com um percurso de 3.500 milhas, cerca de 6.400 km em linha reta. A distância, porém, costuma ficar bem mais longa porque o regime de ventos favorece os barcos que derivam para o norte, enquanto a opção por um trajeto retilíneo entre as duas cidades pode significar o encalhe em um buraco de vento. Na última edição, em 2011, quatro brasileiros formados no Projeto Grael, incluindo Samuel Gonçalves, o atual proeiro de Lars Grael na classe Star, tripularam o barco vencedor, o sul-africano City of Cape Town, com 17 dias de navegação.

A campanha do Mussulo está sendo patrocinada por quatro empresas angolanas: Sonangol (refinaria de petróleo), BIC (banco angolano que está trazendo filial para o Brasil), Sistec (apoio na comunicação) e Angola Cabos (responsável pela instalação de fibra ótica entre Angola e Brasil). Na Copa Suzuki Jimny, o veleiro que estampa no casco branco a inscrição ‘Team Angola’, chegou a liderar a terceira etapa, finalizada com a segunda colocação na classe RGS A.

A vela no sangue

O comandante Guilherme teve o primeiro contato com a vela aos 11 anos na Ilha de Mussulo, próxima a Luanda, onde praticava na classe Dabshick, uma prancha com duas velas. O contato com o esporte foi interrompido de forma súbita e dramática, em 1975, quando aportou com a família no Rio de Janeiro para fugir da guerra civil em Angola.

Dois anos mais tarde, como sócio-atleta do Iate Clube do Espírito Santo, competiu nas classes Laser e Snipe. Parou de velejar para estudar medicina e seguir a mesma profissão do pai. Em 1999 comprou seu primeiro barco de oceano, em Santos. Retornou ao país natal em 2005 realizando a travessia Rio-Luanda com o Mussulo anterior, um Fast 395, no trajeto inverso que fizera 30 anos antes em rota de fuga. Foram 31 dias de navegação. "Reivindicamos o registro da marca no Guinness Book. Com certeza fomos bem mais rápidos do que na última travessia feita à vela pelos portugueses nesse mesmo trajeto por volta de 1730", diverte-se o comandante.

A vocação para os desafios levou Guilherme a trazer sozinho o atual Mussulo, fabricado na Alemanha, de Lisboa a Ilhabela, em 2011. Confira a história da travessia aqui! Conciliando de forma equilibrada a medicina e a vela, em terra firme a navegação do doutor José Guilherme Caldas também tem de ser muito precisa. "Minha missão é tratar do cérebro sem abrir o paciente. Posso dizer que tenho de navegar pelas artérias e veias", afirma o neurorradiologista do Hospital das Clínicas, Sírio Libanês e professor da USP.

História do YCI a bordo

O desempenho do Mussulo na travessia entre África e Brasil passará diretamente pelas mãos do brasileiro Carlos Eduardo Maia, um dos primeiros capitães de vela do Yacht Club de Ilhabela e também um dos responsáveis pelo resgate da história da Rolex Ilhabela Sailing Week, trazida à tona neste ano de forma inédita durante a 40ª edição do evento. Maia será o regulador de velas (sail trimmer).

"Nossos resultados na Suzuki mostram que estamos no caminho certo. Estamos evoluindo. Já corrigimos vários problemas e agora teremos um teste fundamental na Recife-Noronha, em outubro. O Mussulo é um barco de cruzeiro, estamos fazendo os ajustes dentro do possível. Por ser pesado, não se comporta bem com vento abaixo de 12 nós", analisa Maia.

O barco está praticamente pronto, com velas novas, dessalinizador testado; o próximo passo será a instalação dos equipamentos de internet. "A preocupação agora é com a convivência a bordo entre pessoas que não se conhecem, mas essa é uma tarefa para o Zé (Guilherme), que tem uma capacidade grande de agregar", comenta Maia. A ideia é de se formar três grupos com um timoneiro, um trimmer e um proeiro em cada um deles, para um revezamento em turnos de três ou quatro horas.

Redação Bombarco
Fonte: ZDL
Fotos: Aline Bassi e Eduardo Grigaitis/Balaio