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Reality show náutico: 15 pessoas, 29 dias, 72 pés

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Reality show náutico: 15 pessoas, 29 dias, 72 pés

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O empresário Eduardo, que prefere não divulgar o sobrenome, é proprietário de uma Intermarine 65, lancha que na verdade tem 72 pés de comprimento. E acredita que um barco deste tamanho não foi feito para levar poucas pessoas, e sim reunir e incentivar a interação entre familiares, como ele mesmo já fez, levando 15 pessoas para uma viagem de 29 dias pelo Caribe.


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Teste de convívio familiar

Eduardo descreve a experiência como um “Big Brother Náutico”, apesar de ninguém ter ficado isolado do mundo exterior – na verdade, eles puderam curtir a hospedagem das paradisíacas ilhas caribenhas – nem ter sido expulso do barco por divergência com o resto da tripulação.

O empresário passou quase um ano fazendo planos. “Eu planejei a viagem saindo de Miami, indo para Bimini, é a primeira ilha das Bahamas, de Bimini indo para Abaco, de Abaco indo para Nassau, Nassau indo para Exumas... Ou seja, fazer um giro completo, com a família toda,” conta.

“Fizemos em 27 dias, mas com aqueles contratempos de tempo... Isso aqui tem que ser prazer, não pode ser tortura. Nós não temos que estar [em determinado lugar]. Nós queremos estar. Fizemos em 29 dias,” revela Eduardo sobre o modo que conduziu a viagem.

Sobre os contratempos, o empresário conta que a família ficou três dias sem sair do barco em Nassau, ancorados no hotel Atlantis. E o que os prendeu a bordo não foi o mau tempo ou qualquer outro imprevisto, mas a vontade de aprender a jogar Black Jack, jogo de cartas comum em cassinos.

“Eu fiquei como meseiro, explicando para eles e jogando com moedinha de um cent. Três dias!,” lembra o proprietário da embarcação. E brinca que seu irmão, hospedado no hotel, ficou preocupado com o sumiço e foi perguntar se alguém estava doente, de quarenta. “Ficamos três dias [a bordo] e não demos conta!”

Outro momento lembrado entre risos por Eduardo foi uma pescaria que rendeu quilos e quilos de peixe, o cochino (porquinho, em espanhol). “Foi um jantar dos deuses! Só que você não come 30 kg peixe, mas a minha sogra: ‘Ah, não. Não vai sobrar todo aquele peixe, não’,” conta.

“Jefe, tenemos um problema.”

E por falar em comida, um problema que acabou se transformando em solução para o barco foi onde guardar comida para alimentar 15 pessoas por tanto tempo. O barco tem espaço, mas a imaginação precisou ser usada.

A família foi a um grande supermercado na Flórida (EUA) e se espalhou para pegar todos os itens da lista de compra. Só de água foram 780 garrafas. Melancias foram oito. “Imagina! Oito melancias!”

“Então, bem, quando nós chegamos ao píer com aqueles carros todos. Meu marinheiro chegou para mim e disse: ‘Jefe, tenemos un problema.’” O problema: Quem subiria a bordo, os convidados ou a comida? Porque os dois não caberiam.

“E aí foi aquele negócio da gente provar que dava, mas não arrumar, esconder. Por exemplo, 10 caixas de leite, daquelas de 24 [unidades]... Guardou-se. Mas onde? No dia seguinte, manhã cedo: ‘Cadê o leite em pó? Quem guardou o leite em pó? E a farinha? Onde é que está a farinha? E o pão?’ Oito melancias!,” lembra ainda surpreso.

Com a experiência, Eduardo aprendeu muito sobre o barco e as necessidades que não se percebe antes de viajar: “precisa de mais espaço em determinado lugar, precisa de privacidade em determinado lugar, que a coisa que teoricamente é muito linda não funciona”.

“Por que eu estou te contando tudo isso?”

“Eu descobri uma série de locais em barco que as arquitetas acham que não devem ser usados, mas que no caso do projeto da Sophie, foram feitos para isso,” explica o proprietário da Intermarine 65.

Umas das mudanças consideradas básicas por Eduardo foi no flybridge: o lugar onde ficam as espreguiçadeiras foi alterado para que, embaixo dos colchões, tenha espaço (3,00 x 3,00 x 0,50 m) para guardar objetivos ou suprimentos.

A plataforma de popa foi ampliada para que levasse dois jet skis e um bote, mas o resultado final acabou sendo positivo até mesmo para a navegação do barco. “Como aumentou a área lateral, aumentou a área de flutuação. Quando você está planando, o barco parece que tem estabilizador,” explica o proprietário.

Três mesas, uma no deck exterior e duas no salão, e os sofás acolhem com facilidade quantos comensais estiverem a bordo, “sem a necessidade de você ter alguém ali no meio do corredor”.

Na cozinha, para ampliar o espaço de passagem entre o cockpit e a popa, Eduardo pediu que os armários fossem mais estreitos, afinal quem disse que prato precisa ser guardado na horizontal? ”Pode ser guardado na vertical e todo encaixadinho, bonitinho,” explica o empresário que orquestrou todas as alterações feitas no barco.

O bar foi colocado em um “espaço enorme que não estava sendo ocupado”, ao lado da escada de acesso ao deck inferior.  E todos os espaços embaixo dos sofás foram transformados em paiol. “Você levanta e é lugar para armazenar, armazenar, armazenar... Para você organizar e não ficar com nada pela frente,” conta.

Até mesmo a cadeira do piloto virou um paiol. “Aquilo tinha um sistema hidráulico. Você quase nem senta ali, por que você precisa de um sistema hidráulico? Qual o grande problema que tem em barco? Panela! Onde você coloca panela? É grande, disforme, barulhenta...”, explica Eduardo, orgulhoso do seu paneleiro.

Padrão americano

E a poltrona do piloto foi feita para atender os padrões dos Estados Unidos, com os controles e manche do lado direito. A Sophie, de acordo com Eduardo, é o único barco brasileiro feito no Brasil que tem a certificação para navegar em águas norte-americanas.

Outro exemplo de adaptação é o sistema de navegação. O barco tem quatro telas informando sua situação: duas no flybridge e duas no cokpit, cada uma ligada individualmente. “Falhou uma tem a outra, falhou a outra tem a outra, falhou a outra. Falharam as quatro, você tem que ter um sistema mecânico em cima independente e um sistema mecânico embaixo independente,” explica o empresário.

Viabilidade

Eduardo afirma que sempre viu dificuldades dos estaleiros atenderem a pedidos de mudanças nos barcos. “Eu sou engenheiro mecânico. E ainda sou engenheiro naval e a minha grande frustração sempre foi nunca ter conseguido colocar na prática as ideias que eu tinha na cabeça,” conta o empresário.

“Normalmente, no mercado mundial - eu sei disso porque eu tenho barco nos Estados Unidos –, você só pode customizar as coisas, ou fazer do seu gosto, se você tiver um iate acima de 120 metros. Caso contrário, você escolhe, quando muito, a cor do estofado. Com a Intermarine, eu senti desde o princípio, que era diferente,” completa.

Eduardo destaca três pontos no sucesso da customização da sua Intermarine 65: o estaleiro escutou o usuário, o usuário escutou o estaleiro, e a equipe do estaleiro fez o trabalho com capricho, sendo buscando o melhor resultado.

“Tudo que está aqui foi concebido baseado numa empresa que diz assim: “É possível ser feito? Vamos fazer,” afirma o empresário. Mas lembrando que ninguém faz nada de graça revela que a Intermarine incorporou ao projeto original as suas ideias.


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Foto: Intermarine