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Minha "casa" naufragou

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Minha "casa" naufragou

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A gaúcha Vera e o paranaense descendente de japoneses, Yuri Sanada, realizaram o sonho de muitas pessoas: o de viajar o mundo. Moraram no mar por 12 anos e conheceram 39 países. Mas, em julho de 2005, a “supresa”. Uma tempestade afundou o veleiro clássico Clach na Sula, “lar” e base de expedições do casal por nove anos.

O que era para ser mais uma simples e rotineira viagem de Angra dos Reis (RJ) a Ilhabela (SP) tornou-se os dias de maior terror nos 12 anos de vida embarcada de Vera e Yuri.

O veleiro não resistiu às avarias causadas pela tempestade, e naufragou após uma colisão. A bolina não funcionou perfeitamente, o que limitava a capaciade de manobra da embarcação, e o consequente rompimento da genoa.

Assim como num lar, muitos objetos juntados ao longo dos anos foram perdidos no naufrágio, entre eles uma ilha de edição, filmadoras, câmeras fotográficas, um prejuízo calculado em US$ 300 mil. Mas, mesmo após o ocorrido, o casal cumpriu a agenda de palestras da Semana da Vela de Ilhabela daquele ano.

Exemplo de superação e determinação, Vera conta como o casal deu a volta por cima num emocionante relato:

“Eu e Yuri nos conhecemos na Inglaterra em 1989, e começamos a viajar. Em Londres, visitamos várias marinas e feiras náuticas, e sonhávamos em um dia morar a bordo de um veleiro. Começamos a fazer nosso curso de vela no velho mundo, no rio Thamisa. Eu já tinha experiência em pequenos veleiros e Yuri em mergulho. Viajamos de carona em alguns veleiros como tripulantes (trabalhando), como turistas (fazendo charter) e até como caronistas.

Depois de morarmos no Japão e montado a nossa escola de mergulho, em 1991, seguimos para os Estados Unidos, onde comprarmos o nosso primeiro "lar", o veleiro Marauder, um 30 pés. Moramos quase três anos a bordo, viajando entre a Califórnia e o México.

A decisão de morar a bordo se deu por gostarmos muito de viajar e de ter vivido em vários países. Toda vez que chegávamos num local novo, com apenas uma mochila cada, tínhamos que montar uma casa e quando íamos embora, deixávamos tudo. Morar em um veleiro nos deu a possibilidade de morarmos onde quiséssemos e ter tudo o que gostamos junto.

A vida a bordo foi sempre de muita liberdade, mas também de muito trabalho. Só quem tem uma embarcação e vive com ele, sabe o quanto o barco e você se tornam dependentes um do outro.

Superação

Superar o naufrágio foi natural, pois quando optamos por morar em um veleiro, estamos sujeitos aos acidentes. É claro que nunca esperávamos que fosse acontecer.

Tivemos que ser fortes e apoiar muito um ao outro, afinal o Clach na Sula era a nossa casa e também a nossa produtora. Quase tudo o que tínhamos estava a bordo. Sempre fomos muito desprendidos das coisas materiais, então perder as coisas não é o pior.

Recomeçar quando se é forte e unido é fácil. Hoje, estamos bem e realizando outros sonhos que estavam armazenados na nossa lista.

Uma das grandes conquistas neste momento é de participar da Phoenicia Expedition. Somos os produtores oficiais de uma expedição inglesa, com apoio do Museu Nacional e da Royal Geographical Society, que poderá mudar os livros de história. Yuri sempre dizia que quando fossemos voltar para o mar, seria de uma forma diferente. E é o que ocorre. Também somos os consultores de um programa sobre o mar que irá ao ar na Rede Globo.

Do mar para a serra

A mudança que aconteceu foi mudar do mar para a serra. De um barco para uma futura casa de pneus.

Quando morávamos no Japão e tínhamos a escola de mergulho, visitamos uma feira de mergulho, em Tóquio, em 1991. Lá recebemos uma revista de Jacques Costeau, que tinha uma matéria sobre casas feitas de pneus nos Estados Unidos.

Naquela época, entramos em contato com o arquiteto e sonhávamos em construir uma dessas casas no Brasil. No entanto, aquela não era a época certa para pararmos. Demos prioridade para morar em um barco e correr mundo.

Depois do naufrágio em 2005, começamos a colocar esse nosso sonho em prática. A Casa Orgânica, como chamamos, está em construção em Joanópolis (SP). Hoje moramos ao lado da obra, para podermos fazer como ‘sonhamos’. Esperamos que até final de 2010 estejamos ‘a bordo’ da Casa de Borracha”.

Vera e Yuri Sanada

De volta ao Brasil em 1995, o casal fundou a primeira revista eletrônica de aventura, www.aventura.com.br, e desde então desenvolve vários projetos culturais em diversas áreas.

Thassia Ohphata
Fotos: Arquivo pessoal