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Markus Lehmann e o Tocorimé Pamatojari – Uma história com espírito aventureiro

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Markus Lehmann e o Tocorimé Pamatojari – Uma história com espírito aventureiro

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“Espírito Aventureiro”. Era isso que quatro jovens americanos, entre eles Markus Lehmann, tinham em mente quando decidiram construir em Santarém, na região da Amazônia, uma embarcação de 120 pés e 160 toneladas que recriasse o projeto das naves inglesas do século 16.

Batizada como “Tocorimé Pamatojari”, que significa exatamente “Espírito Aventureiro” na língua nativa da tribo Kulina que vive na Amazônia brasileira, a embarcação foi construída com mão de obra local sobre a supervisão minuciosa dos fundadores e criadores do projeto – René Gerardus, Kit e Markus Smit, além de Markus. “O ‘Toco’ foi construído com os meus três parceiros entre os anos de 1994 e 2000 nas margens do Rio Tapajós, na praia do Maracanã. Posso dizer que a experiência foi como estar na faculdade, mas em um processo mais duro e difícil onde era necessário não falhar. E, se caso falhasse, saber como corrigir o erro. Ao mesmo tempo foi a ‘faculdade’ mais prazerosa e doida que eu, pelo menos, já ouvi falar”, conta Markus.

O projeto levou seis anos para ficar pronto e foi concluído em março do ano 2000. Para dar forma ao “Toco” foram utilizadas tábuas de Itaúba sólida, madeira encontrada somente na Amazônia – razão pela qual o grupo escolheu o Brasil para tornar o projeto real. Sem contar, é claro, as motivações financeiras: construir um barco na Europa poderia sair realmente caro. Em números, o veleiro soma mais de dois quilômetros de tábuas, 40.000 parafusos e pregos, 40 toneladas de lastro, 6 quilômetros de corda, velas que enchem um quarto de um estádio de futebol e mastros da altura do Cristo Redentor.

A primeira ‘grande aventura’ desse “tall ship” brasileiro aconteceu logo depois do projeto ficar pronto, em março de 2000, quando descemos o Rio Amazonas e seguimos até Porto Seguro durante as comemorações dos 500 anos de descobrimento do Brasil”, lembra Markus.

De lá para cá, a “jornada” não parou mais. “Desde a sua primeira viagem, milhares de brasileiros e estrangeiros já tiveram a chance de conhecer o ‘Toco’”, lembra Markus que calcula que aproximadamente 140 mil pessoas já participaram de atividades realizadas a bordo do veleiro, entre exposições, peças de teatro, workshops e festas.

Navegando, calculo que já tivemos 18 mil pessoas embarcadas entre day e night sails, viagens de aventura e expedições”, completa.

Com a “residência oficial” na cidade de Paraty, no Rio de Janeiro, Markus resolveu focar os trabalhos executados a bordo do “Toco” na realização de projetos culturais, sócio-educativos, ecológicos e atividades comerciais que destacassem a cultura brasileira utilizando o espaço físico da embarcação como uma plataforma mundial. Um desses projetos é o “Tocorimé na Trilha de Darwin” que pretende refazer a viagem que Charles Darwin fez a bordo do HMS Beagle ao longo da costa do continente sul-americano – O Beagle, a serviço da Marinha Real Britânica, empreendeu três viagens de exploração, incluindo uma viagem de circum-navegação, com o objetivo de explorar as terras e mares que encontrasse pelo caminho. Charles Darwin, na época um jovem naturalista, estava a bordo na segunda viagem do Beagle trabalhando como coletor e consultor científico da expedição. Foi durante essa viagem, que durou aproximadamente cinco anos, que Darwin fez importantes anotações que posteriormente seriam utilizadas pelo cientista na elaboração da Teoria da Evolução.

Conforme lembra Markus, a ideia do projeto surgiu em 2008, um ano antes do bicentenário do nascimento de Darwin. “O objetivo é promover vivências transformadoras que contribuam para o desenvolvimento humano e organizacional. Mas, para ser sincero, o projeto é um motivo para expor a necessidade de não estar satisfeito com o ‘status quo’. Darwin mudou o mundo com uma ideia que ele teve navegando no fim do mundo com pouquíssimas ferramentas. Hoje com todos os recursos que temos, ainda temos pessoas no Brasil sem acesso à informação”, avalia.

É com essa ideia de levar conhecimento que o “Toco” será transformado em um centro-cultural flutuante que contará com exposições itinerantes e ações educativas e científicas sobre meio ambiente e preservação da biodiversidade a bordo. “Esse projeto já era para ter sido colocado em prática em 2010, mas não conseguimos a verba necessária. Agora estamos reorganizando a nossa agenda e pretendemos estrear a programação durante a Conferência Rio+20 [Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável que acontecerá entre os dias 20 e 22 de junho no Rio de Janeiro]. Depois vamos fazer as últimas reformas necessárias e zarpar no segundo semestre deste ano e percorrer toda a costa brasileira na primeira fase do projeto”, conta.

Entre as atrações que poderão ser conferidas a bordo do “Toco” estará uma exposição inédita que terá a bióloga Isabel Landim como curadora, entre outras atividades que poderão ser conferidas pelo público em geral.

Dos quatro idealizadores do “Toco”, Markus é o responsável pela execução dos projetos. “Os outros apóiam a programação como sócios, mas, por enquanto, não participam das atividades”, conta. “Estamos focados na realização desta primeira fase ao longo da costa brasileira. Em seguida vamos nos concentrar no desdobramento de novos desafios, apontando principalmente para a América Latina”, revela Markus. Tudo isso para manter o “espírito de aventura” ainda vivo.



Juliana Barbosa para Bombarco
Foto: Ricardo Hanszmann